A figura fundadora da alquimia é Hermes, deus da mitologia grega, ao qual corresponde o deus romano Mercúrio e o egípcio Tot. Outra figura grande da tradição alquímica e o pai da arte hermética é Hermes Trismegisto, o três vezes grande. O hermetismo designa uma filosofia que se fundamenta num conjunto de doutrinas esotéricas, sendo por essência incompreensível, razão pela qual se classifica de hermético tudo aquilo que é impenetrável, secreto e indecifrável. O hermetismo encontra-se em estreita relação com a filosofia e com as práticas da alquimia. A filiação ao hermetismo provém dos próprios alquimistas, ao assumirem-se como filhos de Hermes, e como operadores da sua arte sagrada. As diferenças manifestam-se no facto que a alquimia possui uma função operativa e concreta, enquanto o hermetismo desvaloriza o mundo da realidade, em proveito dos aspetos espirituais, que correspondem a uma mística ou a uma gnose.
A alquimia baseia-se na teoria da unidade da matéria, e esta relação efetua-se a uma tripla proposição em correspondência com os três planos do ser humano; o corpo, a alma e o espírito. No plano material e corporal, a alquimia serve-se de elementos químicos, metalúrgicos ou mesmo espagíricos. No plano mental e intelectual, ela apresenta-se como uma filosofia. No plano espiritual, a arte de Hermes induz uma mística de uma dimensão eterna. Derivam portanto duas alquimias, uma material e outra espiritual:
A alquimia material, virada para a esperança do lucro, considera que a transmutação se efetua por amálgama com os metais nobres, quando na realidade ela apenas se realiza por fusão e projeção. A alquimia material baseia-se na ourivesaria e na transmutação dos metais, representando pois o seu aspeto exotérico.
A alquimia espiritual entende a transmutação dos metais, ditos inferiores, em metais nobres, como a transformação do homem por intermédio de Deus e da natureza que vivem no seu interior. É uma doutrina que simboliza o seu aspeto esotérico.
A alquimia permanece uma doutrina perfeitamente fundamentada, e que se desenvolve numa tripla perspetiva:
A procura da pedra filosofal, na sua qualidade de pedra transmutatória, de elixir da vida ou de medicina universal.
A transformação psíquica, psicológica e espiritual, através do encontro e da transformação do mundo interior.
A fabricação concreta do ouro, partindo de um metal a ser transformado, através de um certo número de processos, e da utilização do pó de projeção.
ETIMOLOGIA DA PALAVRA
A palavra alquimia, corresponde à palavra árabe alkemia, alkhimya ou al-khemye, e provém do substantivo egípcio khemi, ou khema, que significa terra negra ou terra negra divina. Para os árabes, Allah evoca aquele que não pode ser nomeado, aquele que não tem nome. O prefixo al designa simultâneamente um artigo e a divindade. Em grego, a etimologia da palavra chemeia, parece derivar de cheo, "fundir". Kema não será mais do que a transcrição de chemi, que é o nome do Egipto. Foi este nome que os hebreus teriam traduzido por terra de cham. Alguns afirmam ainda, que o termo alquimia provém da palavra chema, que seria o título de um livro que os anjos caídos, devido ao seu amor pelas filhas dos homens, teriam dado a estas últimas, a fim de lhes ensinarem misteres, tais como, a tecelagem, a tinturaria, a ourivesaria e a fundição do ouro e da prata. Outros textos narram que os anjos deram a Caim o livro da arte aurífica, razão pela qual o termo alquimia proviria do nome do filho de Adão.
ESPAGÍRICA
Ciência que ensina a dividir os corpos, a decompô-los e a separar os seus princípios. A espagírica apresenta-se como um ramo medicinal da alquimia. Do grego spao, spein, extrair, e, agerein, reunir. Para a espagírica, o mistério da cura encontra a sua explicação, na ação da substância medicamentosa sobre o corpo físico, mas também sobre o corpo etéreo. A espagírica funciona em estreita relação com a natureza e o cosmos. É uma homeopatia alquímica que funciona segundo o princípio "simili similibus curantur", o semelhante cura o semelhante, que Paracelso traduziu por, o astro será curado pelo astro. A espagírica separa a substância pura de cada mistura, de tudo o que ela tem de impuro.
HIPERQUÍMICA
O objetivo da hiperquímica é realizar cientificamente a grande obra. Deseja transformar os metais vis em ouro, mas também transformar os processos alquímicos em operações puramente químicas.
ARQUÍMICA
O arquímico trabalha tendo em vista objetivos utilitários ou estéticos. Estão no mundo do artesanato, ourives, vidraceiros e metalúrgicos.
VOARCHEDOMIA
Deriva das línguas caldaica e hebraica. Voarch é uma palavra caldaica que significa ouro. Mea a adumet são palavras hebraicas que significam de duas coisas vermelhas.
A fim de preservar as bases do seu conhecimento, os alquimistas recorreram a uma linguagem codificada e cifrada, acompanhados por uma imagética misteriosa e hieroglífica, cuja máxima é; obscurum per obscurius, ignotum per ignotius, o obscuro pelo mais obscuro, o desconhecido pelo mais desconhecido.
Arte cabalística, não tendo nada que ver com a cabala hebraica, deriva da palavra kabbala (tradição), sendo esta a lei oral transmitida por Moisés. A cabala hebraica estuda e comenta a narração bíblica do génese e nada tem a ver com a cabala fonética dos tratados alquímicos.
As lâminas (cartas) do tarot são vestígios do livro de Tot do Egipto. A alquimia e o tarot são duas realidades diferentes, ainda que ambas se baseiem no simbolismo medieval místico. Tal como a alquimia, o tarot baseia-se no simbolismo da natureza e do universo, e divulga-o por intermédio da sua iconografia.
A crença de Heraclito na existência de um fogo dispensador de vida, e que impregna toda a matéria, a participação desse fogo invisível na obra alquímica, permite distinguir a alquimia da química profana. É graças ao fogo que o homem efectua os primeiros gestos que o civilizam, fabricando armas e instrumentos de trabalho, iluminando-se e aquecendo-se. A palavra grega drakon (dragão) deriva de dekomai que significa olhar ou fixar com o olhar. Aquele que olha possui a faculdade de ver tudo e de obter poder. O dragão apresenta-se assim uma forma de vidente universal.
Flor de ouro, ou elixir da imortalidade, em termos espirituais, trata-se de tender para o homem verdadeiro. A alquimía exterior procura fabricar um elixir de imortalidade utilizando o cinábrio sublimado ou o ouro potável. A alquimía interior tenta regressar à substância original, à matéria-prima, a imortalidade existe no interior do homem, sendo inútil procurá-la no exterior. A alquimía apresentou sempre, ao longo da sua história, e através de todas as suas épocas, uma forma sagrada de erotismo. A copulação hermética mostra, por intermédio da grande obra, e das núpcias químicas do rei e da raínha, o nascimento do filho dos filósofos e da pedra filosofal. As raízes da alquimía ocidental encontram-se em Alexandria (Egipto), onde nasceu Hermes Trismegisto. Alexandria foi fundada por Alexandre o grande em 331 A.C.
Com o aparecimento de um alcoolato de alecrim e de essência de terebentina, um perfume, mas igualmente um remédio universal, manifesta-se no sec XlV uma primeira estratégia comercial, a que se deu o nome de água da raínha da Hungria. Ao que parece, graças a essa água perfumada, a referida soberana teria reencontrado, e conservado, uma irradiante juventude, o que não deixa de evocar o objetivo da pedra filosofal e do elixir da vida.
A realização da obra depende da obtenção da pedra. A pequena obra, ou pequeno magistério, procura produzir a pedra branca, capaz de transformar os metais grosseiros e imperfeitos , em prata. A grande obra, ou grande magistério, tem por objetivo fabricar a pedra vermelha, destinada à transmutação em ouro.
Grão da Etiópia
diadema
que vermelho pinta o céu
no meu poema
alquimia de estrelas
sem luar
e que coisas belas
para lá do infinito
devem estar
pedra cura doença do metal
filosofia
pedra filosofal
místico pôr-do-sol
nos teus olhos meus
a flor-de-ouro, excelso
quase um adeus
Trismegisto, Paracelso
enxofre e mercúrio
negro e branco primeiro
a grande obra existe
no homem verdadeiro
no homem verdadeiro
tudo começa bonito
como a água perfumada
raínha da Hungria
o pó não vale nada
ou se transforma em alegria
e que coisas belas
para lá do infinito
devem estar
pedra cura doença do metal
filosofia
pedra filosofal.