No momento em que escrevo, Outubro 2014, o Japão está ainda ao nível do sonho, do desejo. É já uma decisão tomada, a próxima viagem, em 2015, será ao Japão. De lá quero trazer um Shamisen, instrumento de cordas lindíssimo, e, talvez, um Koto, também de cordas, também lindíssimo. Por agora, começo a preparar essa viagem, ou, a antecipá-la, procurando na net tudo o que me possa vir a ser útil, informações, lugares a visitar, preços, onde comprar os instrumentos e muito mais. A viagem sempre começa muito antes e continua muito depois. Por agora, para lá das pesquisas, vou vendo, aqui por casa, os filmes que têm o Japão como palco, "O amor é um lugar estranho" com a Scarlett Yohanssen e Bill Murray, e "Memórias de uma gueixa"
Dos instrumentos que já referi, o Shamisen foi, juntamente com o Sitar indiano, dos primeiros que desejei para a minha coleção. Tem um som maravilhosamente exótico e fiquei deslumbrado quando encontrei na fnac um disco de Hiromitsu Agatsuma.
Que harmonia é essa
entre o meu querer
e o do sol e o do sonho
metáfora da vida e do mundo
Nihon teien, jardim zen
gueixa, deixa que seja
irashai, irashai, bem vindo
perfume de magnólia
cipreste, azaléia, tuia
a cerimónia do chá
lanterna de pedra
taiko bashi
sakura, flor da felicidade
hanami, hanami
nandinas
trilha sinuosa contra os maus espíritos
os bons buscam nas curvas o seu rumo
pedra-mãe, pedra-pai
nishiki-kói, bonsai
sino de vento, simbologia
religião, filosofia
viver é leve, mais levemente leve é ver ver
o breve
viver é breve, toda a eternidade agora é breve
é bom assim para um homem
plantar uma pedra
dar-lhe um nome
dar-lhe um ser
faz tão bem ao espírito
ouvir essa pedra crescer
nihon teien... ... ...
na casa de um samurai
não se plantam camélias
suas flores caem inteiras
parece que significam cabeça decepada
morte indigna para um guerreiro
paisagem de Soami
os bambus em reverência
plantas, rochas, água, luz
teatro nô
nihon teien... ... ...
Finalmente, a minha viagem ao Japão à muito pensada para este verão, aconteceu entre 20 e 30 de julho. Aqui irei dando conta das aventuras, deslumbramentos, curiosidades e dicas úteis. Por agora quero apenas deixar referido que comprei mesmo o tão desejado Shamisen, cordofone tradicional japonês, com o qual a minha coleção fica muito mais rica.
O processo de aquisição do meu shamisen começou ainda em Portugal, com pesquisas na net, onde encontrei um site em inglês de uma loja em Tokyo, a Kameya store, com a qual entrei em contacto via email, no sentido de saber se poderiam deslocar-se ao meu hotel, New Otani Garden Tower, levando-me o shamisen que eu pretendia, evitando eu, assim, desperdício de tempo à procura da loja. Na verdade, nem pensei que me dessem resposta, mas deram, disseram que sim, que se deslocariam ao hotel, recomendaram a aquisição dos adereços indispensáveis ao shamisen, indicando os preços, e, no dia e hora combinados, lá estava o senhor com o meu shamisen, na recepção do meu hotel em Tokyo.
Para começar a relatar sobre o Japão, não posso deixar de o fazer pelas
CURIOSIDADES
A minha viagem ao Japão foi aquela em que, sem grande margem de erro, mais aprendi. Quero começar por deixar aqui os meus comentários sobre o que mais me impressionou.
A SABER:
- O nosso guia de Kyoto, que entre entre outras coisas, nos deu vastas lições de história do Japão, em certo ponto do seu discurso, nos disse que podiamos andar à vontade, sem receios de qualquer espécie, pois no Japão não havia criminalidade, do género carteiristas, ou pior. Na verdade, assim foi, sempre descontraído, quer nas maiores enchentes e apertos no metro, nos comboios ou bus. É uma mais valia muito grande esse tipo de conforto. Tem uma cena de um filme, de Jachie Chan, cujo título é Guerra de Gangues, que vi antes da minha viagem, onde, numa cena em que emigrantes chineses no Japão roubam uma loja, perante o espanto de um, o outro, que tinha roubado lhe diz, "os japonese não roubam e pensam que os outros também não, idiotas." Que bom seria se todos fossemos como os japoneses.
- Um dos aspetos mais surpreendentes, para mim, e todo o grupo de turistas, que incluía espanhóis, várias nacionalidades de língua espanhola da América do Sul, brasileiros e, claro, portugueses, foi o facto de não haver caixotes do lixo nas ruas, nem mesmo ecopontos, e, para espanto geral, também não se vê lixo nas ruas. Esse foi um assunto muito abordado, uma vez que toda a gente queria saber o que faziam os japoneses ao lixo. A explicação veio pela boca do nosso guia de Kyoto, que era fluente em espanhol, pois tinha vivido vários anos em Espanha, e disse-nos que essa questão tinha diretamente que ver com a espiritualidade japonesa, onde, o xintoísmo, religião oficial, tem uma miríade de deuses, havendo deuses para tudo e mais alguma coisa. Assim, os japoneses levam o lixo para casa, como forma de contentar o deus do lixo. A nossa guia de Tokyo, em boa verdade, solicitava que as garrafas de água vazias, ou outro lixo lhe fosse entregue, e, realmente, levava com ela esses sacos de plástico cheios de garrafas de água vazias ou o que fosse. Naturalmente, imagino que, em casa, deve haver uma forma de canalizar esses lixos para contentores dos prédios como já se vê, por exemplo, em Lisboa. Por várias vezes, depois de consumir uma garrafa de água, fiquei sem a possibilidade de a colocar no lixo tendo optado por guardar na minha sacola até chegar ao hotel, onde, finalmente, tinha recipientes no quarto para o lixo.
- Outra das curiosidades da vida japonesa, tem que ver com o facto de não se poder fumar na rua. Eu, que não sou fumador, nunca fui, agradeço sobremaneira esse particular, pois o fumo do tabaco, mesmo na rua, me incomoda. Por todo o lado, nos passeios, em placares de beira de estrada, nos relvados dos parques, se viam sinais a indicar que é proibído fumar.
- Esta minha viagem ao Japão deu-me também a conhecer uma sociedade onde não vi, em nenhum lugar, pedintes ou sem abrigo. Não garanto que não haja, mas, por todo o lado onde andei, e percorri bastante das várias cidades que visitei, zonas de muita afluência de pessoas, inclusive turistas, não fui abordado por ninguém de mão estendida, como acontece a cada passo em Lisboa, nem vi pessoas sem abrigo nem os seus vestígios. Mais que os templos ou santuários, castelos ou palácios, o que mais me impressionou no Japão, e que me ensinou muito sobre os japoneses e, principalmente sobre nós portugueses e ocidentais, foram estes aspetos que venho relatando.
- Por último, gostava de referir aqui uma curiosidade que revela muito da educação e civismo dos japoneses. Nas passadeiras ou escadas rolantes todos se colocam à esquerda, mesmo os casais se colocam um atrás do outro, sempre do lado esquerdo, para permitir a passagem de quem queira ir mais rápido. Por acaso foi a minha companheira que me alertou para esse facto, quando, no metro, numa escada rolante, ela se colocou atrás de mim, e eu, que ainda não tinha reparado, lhe disse para se colocar ao meu lado, foi quando ela me alertou que todas as pessoas estavam do lado esquerdo para não prejudicar quem quisesse passar.
TOKYO, Shibuya crossing