Este é um novo projeto, nascido hoje mesmo, dia 17 de Outubro de 2016. No entanto, pensando bem, à muito que, a pouco e pouco, sem que eu mesmo me desse conta, alguns acontecimentos conspiraram para que a ideia nascesse.
O primeiro momento foi quando em Marrocos, mais especificamente em Essaouira, cerca de três anos antes, comprei uns suportes para cargas de canetas em madeira muito bonitos. Para usufruir desses suportes que acabam por produzir canetas inéditas, tenho que partir os suportes plásticos das canetas Bic cristal tradicionais, pois são as cargas de tinta dessas canetas que encaixam perfeitamente nos suportes que comprei em Marrocos. E assim tenho feito.
Entretanto, à dois anos, o meu projeto na escola foi "Os cartaxos", pequenos instrumentos feitos de cana, usados sobretudo nos ranchos folclóricos. Depois de muitos cartaxos que construí, até procurando novos materiais para que com o mesmo princípio técnico pudesse obter novas sonoridades, lembrei-me de fazer uns cartaxos com canas mais finas, de maneira que, na extremidade oposta à qual se instala o batente do cartaxo, pudesse trabalhar na cana uma perfuração que me permitisse introduzir uma carga das mesmas canetas Bic cristal tradicionais. Assim nasceu, já lá vai mais de um ano, as canetas cartaxo, que muito impressionaram os alunos, pois que as uso nas aulas.
Daí às canetas ponteiro, com canas mais finas e maiores, foi um pequeno passo. As canas são decoradas das mais diversas cores e temas, e, resultam objetos inéditos, algo extravagantes, mas também bonitos. Mais recentemente, tendo decidido, numa tarde soalheira, ir fazer um pouco de jogging, reparei na beira do caminho, nuns arbustos que julgo serem utilizados para as garrafas de aniz, cheiram muito bem, sobretudo quando estão verdes, mas também quando secam. Lembrei-me de tentar a experiência de perfurar os caules de forma a criar um canal onde pudesse introduzir as recargas das canetas Bic cristal, e resultou. Alguns caules tem formas retorcidas muito curiosas, são decorados com tintas acrílicas e resultam canetas diferentes, algo absurdas, mas a que os alunos não têm ficado indiferentes.
Numa primeira fase procurava canas o mais direitas possível, entretanto, procuro canas o mais tortas possível, e assim, com o conjunto de canetas cartaxo, canetas ponteiro, direitas e retorcidas, fui colecionando, sem saber, ainda, que este viria a ser um bom tema para propor aos alunos e famílias, tendo como objetivo final deste ano letivo 2016/ 2017, uma exposição de canetas design por altura do carnaval, onde serão trabalhadas canções com instrumentais preparadas por mim, para textos meus e para textos dos alunos e famílias que, a seu tempo, irão ser desafiadas a colaborar. O tema para os textos das canções será o das canetas carnavalescas, o que, para quem se quiser dar ao desafio pode proporcionar ideias incríveis, pois que, neste tema, tudo, mesmo tudo, é possível. Eu mesmo, no momento em que escrevo, em que a ideia acabou de surgir, não sei exatamente para onde a imaginação me vai conduzir, mas, a seu tempo, as canções serão colocadas nesta página.
Hoje, dia 18 de Outubro de 2016, as ideias continuam a evoluir. Olho para as coisas sempre com a curiosidade de saber se este ou aquele material poderá resultar neste projeto. Na falta de caules do arbusto de aniz, reparei no chão da minha horta nalguns talos de couve secos que resistiam por ali à muito tempo. Notei o seu aspeto rústico e formas curiosas. Decidi experimentar. Eis o resultado, suportes para caneta feitos de velhos talos de couve velhos e secos
Uma caneta retorcida
de pau verde
de pau seco
de arbusto de aniz
uma história divertida
ninguém perde
neste beco
sem saída onde sou feliz
as histórias que eu vou escrever
com elas
todo o mundo vai dizer
são belas
escrever direito em linha torta
a minha vida
onda do mar
de tinta em correnteza
céu caído à minha porta
sem ferida
eu vou brincar
com este azul, azul turquesa
Uma caneta a delirar
eu quero escrever ela parar
eu quero curva à direita
ela faz a reta perfeita
uma caneta independente
nem para trás nem para a frente
uma história sem sentido
um herói ali esquecido
uma caneta irregular
fora da lei
dou comigo a pensar
sei escrever ou não sei
no poema de amor não tem flor
no fundo do mar quer viajar
um ponto final é o melhor
na canção da caneta singular
Uma couve pequenina
na terra fofa a crescer
são os melros, os pardais
que a querem ir comer
cresce a couve tão bonita
folhas verdes tão gostosas
são lagartas, borboletas
que se tornam mais perigosas
caracóis, caracoletas
que a querem devorar
depois de tantas piruetas
a história tem que acabar
são as pragas, os insetos
inseticida faz mal
os bichos não param quietos
raiz, folhas e caule
debaixo da terra rosca
rato cego vê no escuro
a caneta fica tosca
no seu bico o futuro
perdido, jogado fora
talo seco faz careta
o que acontece agora
transformou-se em caneta.
Esta caneta, torta, esquisita
exposta na luz clara da vitrina
eu escrevo muito, ela me ensina
que torta não é a má da escrita
a má da escrita
mundo medonho
caneta bonita
caneta torcida
destorce o meu sonho
poema de vida
não é o tempo de estar perfeito
sempre à risca seguindo a linha
pisar o risco com todo o respeito
com cada caneta louca minha
a má da escrita
mundo medonho
caneta bonita
caneta torcida
destorce o meu sonho
poema de vida
caneta que só tem defeito
que ondula, faz ésses e tudo
tem mais beleza não ser a direito
caneta design para o entrudo
a má da escrita
mundo medonho
caneta bonita
caneta torcida
destorce o meu sonho
poema de vida
In this pen where once the birds sang love songs
where once the butterflies danced its colorful balet
where once the bees began the day buzzing to the sun
where once the wind played forgotten the empty hours
this is my look
this the new time
I write a book
story sublime
my life has changed
now I am a strange
to the bad sign
In this pen that once made shadows to the country flowers
that once drew in the sky the flowers of your garden
that once called Autumn to take the leaves meet the sea
that once said goodbye to the clouds reflected in the morning dew
this is my look
this is the new time
I write a book
story sublime
my life has changed
now I am a strange
to the bad sign.
As recargas das canetas
vermelhas, azuis, verdes e pretas
mudaram de lugar
querem cores, querem vida
numa história mais divertida
querem todas entrar
viraram costas à lua
galáxia nua e crua
verso, universo para amar
canetas de palmo e meio
resumo de um sonho cheio
canetas de vira mundo
princípio de infinito
coração livre é mais bonito
canetas de mar sem fundo
as recargas das canetas
vermelhas, azuis, verdes e pretas
luz e poesia
da terra rompe a certeza
o sol dá cor à beleza
dessa fantasia
longe do plástico feio
guardo todo o recheio
da tua alegria
Uma cana grossa, uma fina
uma linda menina que troça
da cor mais brilhante na curva
uma imagem turva e dançante
sortilégio no meu caminho
aroma bom do meu pé de funcho
invento pétalas quando estou sozinho
sem versos sou como as plantas, murcho
com as raízes viradas para cima
desenho desertos de mil azuis e rosa
rio de lava que lava a rima
que a batalha não se faz em prosa
uma árvore pendura a semente
numa vagem quente, forte e escura
eu nunca sei com rigor se vai resultar
começo a pintar como quem rega a flor
caneta de muitas elegâncias
orquídeas dançam na tua pele
teu destino é reduzir distâncias
na minha folha de papel.
Quando o dia rompeu
já era tarde
um golpe de ferro que me doeu
caída no chão, o sol arde
ali esquecida sem valor
sem dar flor
nem sementes que adivinham o futuro
aguardo o fim junto a um muro
alguém que passeia a melancolia
pega em mim agora
limpa a terra, restos da minha alegria
e leva-me consigo dali para fora
sou bem tratada, limpa, esfregada
com tintas coloridas decorada
começo a fazer riscos doidos numa folha
e reparo como feliz ele me olha
sou fotografada, sou falada, sou vedeta
Há novos planos para mim mas eu não sei
onde me leva este destino de caneta
talvez escrever sobre o orvalho que beijei.
Não reconheço este poema
nem a caneta que o escreve
este é o meu dilema
continuar ou fazer greve
aqui não vejo serpentinas
máscaras de meter medo
meninos vestidos de meninas
talvez ainda seja cedo
meu poema carnavalesco
que a tanto me atrevo
não é burla mas é burlesco
como a caneta com que escrevo
brincadeiras de mau gosto
leva ou não leva a mal
tudo o que não é suposto
supostamente é o normal
samba é no sambódromo
em Veneza veneziano
quem ao frio anda nu é cromo
copiar é o maior engano
Como vou escrever à terra
falar de teus olhos raros
a terra escreve com rios
o céu escreve com nuvens e pássaros
palavras de insetos nos fios
como vou escrever à terra
falar de teus olhos raros
a terra escreve com rios
lágrimas não trazem dias claros
não quero versos sombrios
se a caneta se transforma em flor
em ondas do mar, cauda de pavão
seja o que for
e se for em coração
corações aos dois e dois
o que virá depois
se enfeitar com o teu nome
escrito com letras feitas de arame
se imaginar um ziguezaguear que some
e passa no exame
se desfiar a lua para fazer-te uma trança
a terra saberá ler, eis a minha esperança
Caneta tulipa
caneta vassoura
folha de estrelícia
de cola quente
pau de virar tripa
curva e contra curva como mulher loura
malícia
para mexer com a gente
mundo se dissipa
coração estoura
verso na notícia
livro urgente
carnaval da caneta
quem escreve assim não é pago
que misterioso bago
dá esse sumo de tinta preta
ramo de figueira
teu nome laranja
caneta raiz
de erva daninha
tubo de mangueira
rimar é canja
o que não se diz
alguém adivinha
caneta brejeira
fruto do que se arranja
caneta feliz
caneta sem graínha
carnaval da caneta
quem escreve assim não é pago
que misterioso bago
dá esse sumo de tinta preta
Com pena de pato
escrevo o retrato
linha após linha
pena de galinha
com pena de ganso
pena de peru
o que escrevo, alcanço
o que escrevo, és tu
com pena de cisne
o amor existe
no meu coração
pena de faisão
com pena de galo
pena de pavão
escrevo não calo
descrevo-te ou não
escrever com pena
é muito mais romântico
imagino a cena
numa frase pequena
um grande cântico
escrever com pena
a palavra escrita
de Tróia, Helena
escrevo na cantilena
tu és mais bonita.
Letras de mãos dadas na palavra
em fila indiana resistem como ferro
se uma letra invade a tua lavra
a essa invasão chama-se erro
letras gregas, letras árabes, latinas
letras a dançar como meninas
letra chinesa é chamada carater
desde os Fenícios que se escreve como a gente quer
literatura, poesia, versos de amor
alma madura, alegria, universo sedutor
romance lindo que ainda não se viveu
livro de memórias onde vives tu e eu
letras são estradas sinuosas
trilho de borboleta no jardim
letras sempre novas em velhas prosas
o ponto final outro começo em mim
letras russas, letras hindi, hebraicas
letras sagradas, hieroglifos, letras laicas
letras aproximam eternidades e instantes
subo os Himalaias em vogais e consoantes.
Caneta não fala
caneta exala o sonho
em tinta prisioneira
palavra certeira que ponho
em liberdade azul pioneira
escrevo sobre a caneta que escreve
deixo a pegada na neve
linha do horizonte romântico
caneta sabe tudo o que eu sei
obedece-me como se eu fosse rei
no campo de batalha semântico
caneta não cala
na mão embala universos
no livro nada apodrece
o pó cheirando a versos
que o coração agradece
Canetas de penas
de ganso, de pavão
canetas de flor
meu amor, meu coração
escrever apenas
no voo da solidão
o sol desertor
no calor da emoção
no livro gigante das canetas vou dizer
palavras não perseguem tua sombra
virar a página que me ensina a ler
o silêncio de meu sangue bomba
canetas de penas
da cauda, da asa
pássaro no chão
coração em brasa
escrever apenas
perdido em casa
dor e devoção
que ao passar arrasa
Caneta contra caneta
uma azul e outra preta
minha música
o céu é sempre em linha reta
escrever-te e ver-te é a meta
metafísica
caneta contra caneta
ensaio sobre a semente
se mente, não dá
cem anos sem danos, vou indo
na linha vinha a palavra vindo
do mar para lá
agora sou feliz demais
trevo de quatro folhas me atrevo a folhear
agora teus ais são sinais
cresce a onda onde o coração foi desaguar
De Hanói ninguém se esquece
arde o tempo e arrefece
meu lugar na ironia de viver
em Hanói aprendi deslumbrado
sou também um necessitado
ainda que pense tudo ter
Templo da Literatura
no coração da cidade
ler-te é uma aventura
no labirinto da verdade
simbologia da mão
Confúcio, olho no futuro
bonsai gigante, ilusão
tartaruga de ouro puro
arbusto em forma de animal
letras de flores vermelhas, sinal
crianças na vereda do jardim
em Hanói aprendi deslumbrado
sou também um necessitado
preciso de ti junto a mim
Os Sumérios, 3500 antes de Cristo
usavam a escrita cuneiforme
como é que se lê isto
a história não dorme
os Sumérios, 5500 anos atrás
escreviam com ossos e madeira
vê lá tu se és capaz
de escrever no barro à sua maneira
breve história da caneta
esferográfica
minha canção, opereta
por aqui se fica
os Egípcios, 2500 anos A.C.
inventaram o papel, papiro
e a sua escrita como se lê
ler pra onde está voltada a figura, é giro
séculos mais tarde, penas de ganso
penas de metal, muito me canso
caneta tinteiro com mata-borrão
Ladislao Biro, Marcel Bich na melhor invenção
breve história da caneta
esferográfica
minha canção, opereta
por aqui se fica
O projeto Carnival Pen Design ficará por concluir, em virtude da minha necessidade de me afastar da escola para preservar a minha saúde psíquica, que, desde vários anos, vem sendo afetada por atitudes de discriminação negativa contra mim por parte das equipas dirigentes do agrupamento. Obrigado a todos os alunos e famílias que colaboraram para este projeto que, lamentavelmente, ficará inacabado.
Carnival Pen Design, fotoshow
Este fotoshow é um pequeníssimo apontamento de todos os trabalhos que criei com a finalidade de serem exibidos numa exposição escolar na semana anterior ao carnaval 2016. Estes trabalhos, que aparentemente nada tem que ver com educação musical, são na realidade o tema retratado nas canções que os alunos já estavam a trabalhar nas aulas, onde iriam cantar, tocar flauta e orquestra Orff, assim como as próprias canetas, que, sendo o tema do projeto, iriam ser usadas como instrumento musical, não exatamente estas, mas as normais canetas plásticas do dia-a-dia das aulas.
Carnival Pen Design 2
Carnival Pen Design 3
Carnival Pen Design 4
Carnival Pen Design 5